No México, a construção de hospitais para COVID-19 ocorreu em tempo recorde
Até meados de maio – a fase mais intensa da COVID-19 no México – o país contava com 739 hospitais especializados nesta doença e quase 29 mil leitos para pacientes que precisassem ser hospitalizados; porém em meados de março, quando a pandemia começou a afetar os mexicanos, ficou claro que a construção de hospitais seria indispensável para poder atender à demanda que se aproximava.
Foi então que a CEMEX – uma empresa mexicana fundada há mais de 110 anos, na cidade de Monterrey no norte do país, e líder mundial na fabricação e distribuição de materiais de construção – convocou os funcionários de todas as suas unidades de negócios para procurar soluções que ajudassem o país a enfrentar a situação.
“Realmente, queríamos apoiar de alguma forma; no entanto, os projetos em que nossa unidade de negócios está envolvida no dia a dia, como estradas, represas ou parques eólicos, não estão diretamente relacionados com o combate de pandemias”, lembra Enrique Rodríguez, gerente de Engenharia e Projetos de Infraestrutura e Governo da CEMEX.
“Naquele momento surgiu a ideia de adaptar um projeto interno implementado em 2019 – no qual desenvolvemos habitações pré-fabricadas adequadas para funcionários que trabalham em obras remotas – para fabricar e instalar hospitais pré-fabricados, sempre com a intenção de serem inteligentes, duráveis, móveis e acessíveis. Conhecendo a necessidade do país, esta ideia realmente atenderia à população”, explica.
Com esse objetivo claro, o passo seguinte foi concretizar a conceptualização do projeto com a Construhub, uma nova linha de negócio da CEMEX focada em apoiar seus clientes na transformação digital de seus negócios para o projeto, coordenação e planejamento.
“Nossa área de Infraestrutura decidiu tomar como base os módulos pré-fabricados do projeto de habitação adequada. Foi feito um levantamento a laser com o apoio da equipe de topografia da CEMEX no qual, por meio de nuvens de pontos, identificamos como tinham sido construídos e que elementos e interação havia entre eles; isso foi recriado em [Autodesk] Revit e, em seguida, começamos a trabalhar no novo projeto, embora ainda não soubéssemos se o projeto seria aprovado!”, comenta Eileen Hernández, gerente de Desenvolvimento de Segmento e Novos Negócios da CEMEX.
Para complementar o projeto, reuniram-se peritos em instalações, acabamentos e serviços relativos a hospitais que contribuíram com suas opiniões para que o projeto fosse adaptativo, acessível e fácil de instalar; cumprindo sempre os critérios mínimos de um hospital desse tipo.
“Tínhamos reuniões diárias com todos os envolvidos para ver o avanço e a evolução do conceito no Revit e íamos criando e implementando as mudanças que nos solicitavam, e projetando arquitetonicamente os espaços. O resultado foi um modelo de hospital móvel que satisfaz todas as normas”, descreve Eileen Hernández.
Em menos de três semanas já tínhamos um modelo BIM pronto, que foi mostrado às instituições de saúde pública mais importantes do país. O modelo completo do hospital foi apresentado, enfatizando o cumprimento das necessidades da sua operação e principalmente o tempo máximo de fabricação, montagem e início da utilização, o qual ficou definido em três semanas úteis de trabalho. Isto coincidia exatamente com a previsão do pico mais alto da curva da pandemia. “Rapidamente, tivemos sessões de adaptação do desenho e início da obra”, acrescenta Enrique Rodríguez”.
Para ver como se ajustavam os parâmetros dos elementos e como o modelo evoluiria com um objetivo de custo, decidiram utilizar o conceito de Target Value Design.
“Então começamos a ver algo muito legal que normalmente não se vê neste tipo de projeto, que é pensar em projetar para um determinado orçamento”, explica Eileen Hernández. “Da mesma forma, minha equipe de trabalho se baseou em visitas virtuais para que as expectativas de todas as partes envolvidas se concretizassem e fossem incluídas no modelo, para assim minimizar o impacto das mudanças na fase de construção”.
A evolução do projeto
Dia após dia o projeto ia evoluindo de maneira natural, desde o desenho até o orçamento. “Trabalhar com o BIM nos ajudou a não perder o objetivo e a essência: hospitais pré-fabricados, duráveis, inteligentes e acessíveis. Isso representou um grande esforço para conseguir a melhor proposta de projeto-construção do grupo de empresas interdisciplinares participantes; além de manter sempre uma comunicação fluida e transparente com nossos clientes, o que foi a chave para realizar um modelo de hospital funcional e de acordo com as necessidades de atendimento aos pacientes e ao cuidado da equipe médica”, menciona Enrique Rodríguez.
Depois que as instituições de saúde reviram o projeto final, foi dado o sinal verde e foi iniciada a construção de seis hospitais em nível nacional, após menos de quatro semanas do início da gestação da ideia. “Antes de começar a construção, foi feita uma adaptação do projeto estrutural com base na localização de cada edifício: Monterrey, Nuevo León; Ciudad Juárez, Chihuahua; Culiacán, Sinaloa; Fresnillo, Zacatecas; Tlalnepantla, Estado do México e Puebla, Puebla”, informa Enrique Rodríguez.
Isso testou o projeto original; entretanto, com o apoio de especialistas, foi possível projetar mudanças estruturais que garantissem a segurança do edifício sem modificar sua distribuição arquitetônica. A partir daí, a nova meta era construí-los nas três semanas seguintes na mesma escala, embora em latitudes diferentes. “O trabalho de simulação do modelo BIM também foi muito útil para as construtoras que deviam reproduzir e ajustar o hospital aos requisitos específicos dos terrenos onde seriam construídos, minimizando a perda de tempo e reprocessamentos, e evitando alterações no fluxo de trabalho”, comenta.
Eileen Hernández diz que durante esses projetos a CEMEX realmente “viveu” com seus clientes o significado da palavra BIM: um processo colaborativo onde todos participam, tendo um modelo visual para todos e um objetivo de negócio claro.
“Isso representou um grande desafio de projeto e coordenação vencido, alavancando nossos processos BIM, boas práticas de projetos e tecnologias aplicadas à informação”, menciona.
A ideia destes hospitais móveis é que, uma vez que termine a emergência, poderão ser aproveitados de outra maneira, como refeitórios, por exemplo; e que ao fazer um bom trabalho de desinstalação e transporte, possam representar um alto índice de reutilização, o que também é muito conveniente para as instituições governamentais de saúde.
Um modelo único
O projeto não foi interrompido em nenhum momento, porque todas as características específicas estavam integradas no modelo digital, eram aprovadas, as quantidades eram revalidadas e, depois de serem apresentadas ao cliente, as autorizações finais demoravam somente algumas horas, em vez de dias.
O fato de que o cliente pode percorrer virtualmente seu projeto e fazer recomendações é incrível. “Sua expectativa está muito próxima do que entregamos, porque ele esteve envolvido desde o início”, resume Eileen Hernández.
Na maioria dos países, prédios já existentes foram adaptados como hospitais, inclusive em alguns lugares no México; mas o que torna único esse projeto da CEMEX, pelo menos na América Latina, é que foi criada infraestrutura móvel começando do zero para aumentar a capacidade de atendimento a pacientes, rompendo o paradigma de gestão de projetos tradicionais e introduzindo tecnologias para facilitar o processo de projeto através de modelos de informação.