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Sucesso da construção em madeira laminada depende de forte cadeia logística

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Ao considerarmos as propriedades biológicas da madeira e da madeira laminada, pensamos primeiramente nas propriedades sensoriais da madeira: seu cheiro, textura e veio único, cada um tão singular quanto uma impressão digital. Essas propriedades também trazem consequências à fabricação e cadeia logística de madeira laminada, sendo necessárias a fabricação digital, uma cadeia logística igualmente digitalizada e economias de escala verticalmente integradas.

A madeira é uma matéria-prima rara que, apesar de ser um sumidouro de carbono, também tem estrutura infinitamente flexível e de fácil corte. A madeira laminada, unidades compactas de madeira formadas por diversas peças de madeira que aumentam exponencialmente a sua resistência, é bastante adequada para construções pré-fabricadas e modulares.

Essa é uma boa notícia porque, em sua forma bruta, a madeira laminada, e, particularmente, a madeira laminada cruzada (CLT), não é “uma simples mercadoria”, diz Ricky McLain da WoodWorks. “Dependendo do fabricante com o qual trabalha, você pode obter uma variedade de espécies de madeira, que apresentam diversas propriedades estéticas e estruturais.” A fabricação digital é uma forma de padronizar esses elementos díspares e demonstrar a flexibilidade inerente a essa matéria-prima.

A cúpula do Pavilhão do Carrossel do Mill River Park é uma topografia invertida de camadas de madeira laminada cruzada. Cortesia de David Sundberg/ESTO Photographics/Gray Organschi Architecture.

“Em sua essência, a madeira laminada é necessariamente um componente industrializado”, informa McLain. “Nenhum desses componentes maiores é fabricado no canteiro de obras; todos são pré-fabricados externamente. Por isso, é fundamental compreender a cadeia logística. Como a madeira chega ao canteiro de obras e quem a manuseia no local?”

Como a madeira laminada é novidade na América do Norte e ainda não há uma padronização, os projetistas precisam acompanhar de perto o trabalho dos fabricantes de madeira laminada.

“Você não projeta sozinho”, afirma McLain. “Durante o projeto, você entende os recursos e projeta a estrutura da forma mais eficiente para aqueles recursos. Pode ser que um fabricante produza aquela espécie cuja aparência você adora. Ou, outro motivo pelo qual prefira usar a madeira laminada seja porque precisa encaixar uma grade de colunas e um determinado fabricante seja a melhor opção para essa grade. Então é trabalhar dentro dessas opções e usar as vantagens de cada uma para escolher o melhor fabricante.”

Conforme os projetistas desenvolvem a capacidade de trabalhar em conjunto com os fabricantes de madeira laminada e se integram à cadeia logística, o seu objetivo deve ser “apresentar projetos que possam ser diretamente transformados em uma fabricação digitalmente prática”, diz Andy Ruff, associado sênior na Gray Organschi Architecture, residente dos Centros de Tecnologia da Autodesk e coordenador de pesquisa da Timber City Research Initiative.

Com a madeira laminada, podem-se construir estruturas, fachadas, realizar o isolamento e acabamento interno. “Você pode escolher um material, um fornecedor, e criar grande parte do seu projeto”, diz Ruff. A versatilidade do material aumenta o potencial de integração vertical. Além da potencial titularidade dos dados criados ao longo de toda a cadeia de propriedade, a integração vertical oferece um conjunto padrão de eficiências de valor agregado, uma vez que a madeira laminada já gera uma economia média estimada de 10% a 25%.

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Um exemplo de estrutura de madeira híbrida. Cortesia da Cut My Timber.

Por esse motivo, Ryan Smith, diretor da Faculdade de Projeto e Construção da Universidade do Estado de Washington, observa que os fornecedores de materiais têm passado a trabalhar no setor de produção e fabricação, enquanto os empreiteiros se posicionam a montante e a jusante da cadeia logística.

Para os fabricantes, a pergunta é: “Já estamos produzindo esses materiais; por que não os fabricamos e por que não os usamos em nossas construções?” afirma Smith. “Os projetistas estão trabalhando para desenvolvedores, empreiteiros ou a empresa de pré-fabricação. Ao controlar o projeto e até mesmo a montagem no local, o fabricante de madeira laminada tem mais controle sobre todo o processo de entrega. Portanto, em geral, vejo que haverá uma fusão de empresas, principalmente com a Covid-19.”

“O que está havendo hoje na nossa área, não somente em relação à madeira, mas à construção industrializada, é uma pressão sobre o setor”, diz Amy Marks, chefe de Estratégia e Comunicação de Construção Industrializada da Autodesk.

“Temos grandes empresários pedindo coisas”, continua Marks. “Temos governos pedindo coisas e exigindo a retomada de projetos com digitalização, BIM e sustentabilidade, principalmente em relação ao carbono. Temos os ‘supersubs’, subempreiteiros que estão assumindo outros negócios. Temos grandes fabricantes se beneficiando dessas coisas. Então, quando você exerce esse tipo de pressão em um ecossistema, ainda mais com a Covid-19, a situação começa a ficar confusa. E aí começamos a ver empresas que tradicionalmente se isolavam no nosso ecossistema, ao ponto de termos que fazer grandes esforços para obter informações, se transformando em empresas de fabricação integrada.”

Smith afirma que, nos Estados Unidos, o tamanho médio de uma construtora é de apenas oito funcionários, e o tipo de pesquisa e desenvolvimento necessários para tornar a tecnologia de construção em madeira laminada amplamente viável não pode se reduzir a uma operação tão pequena. “Não há capacidade para investir em P&D”, afirma. “Não há capacidade para coletar dados e efetivamente analisar e se aprimorar. A partir do momento em que há a fusão e alinhamento de empresas na integração vertical, obtém-se o capital necessário para aprimorar os seus processos diariamente.”

A madeira laminada permite a incorporação de uma gama mais ampla de qualidades de material nas cadeias logística. Como será cortada em pedaços menores, a madeira laminada pode ser composta por uma madeira de qualidade inferior, como pinheiros mortos pela infestação de besouros que dizimou milhões de hectares de florestas, que atualmente estão alimentando os incêndios florestais no oeste dos Estados Unidos. É uma madeira que, de outra forma, seria desperdiçada ou teria um uso muito menos proveitoso como forragem para construções de alta tecnologia e de carbono positivo.

A modularidade e a flexibilidade de corte da madeira laminada facilitam a sua desmontagem e reutilização. “Temos a capacidade de não apenas usinar a madeira inicialmente, como também de reusinar e recortar essa madeira”, diz Ruff. “É muito difícil reprocessar o concreto no fim de sua vida útil. Talvez se quiser produzir um agregado, mas certamente o valor original do componente não será mantido. Mas podemos simplesmente retirar os parafusos e revender os painéis no atacado.”

Ainda há grandes lacunas e desafios em relação ao uso de madeira laminada na América do Norte. Os fornecedores, fabricantes e projetistas precisam fornecer mais dados relativos ao seu fluxo de trabalho. A primeira fábrica de madeira laminada a leste das Montanhas Rochosas foi inaugurada há apenas dois anos; para que a indústria tenha êxito, o alcance e a amplitude da cadeia logística devem se expandir. A instalação de novas fábricas exige um alto investimento de capital e os fabricantes precisarão de mais apoio do setor privado e da indústria de tecnologia.

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Montagem de uma estrutura de madeira híbrida. Cortesia da Cut My Timber.

“Uma limitação ainda maior é a falta de profissionais da indústria de construção com experiência em operar, de forma bem-sucedida, fábricas de pré-fabricados, que sejam capazes de integrar em suas operações processos industriais e tecnologias em desenvolvimento”, comenta Greg Howes, diretor de desenvolvimento de negócios da Cut My Timber, fabricante e fornecedor externo de madeira laminada.

Na América do Norte, as construções em madeira são frequentemente associadas às típicas casas suburbanas com a sua estrutura de madeira e telhado inclinado. Mas a grande presença dessas casas não compensa a sua construção imprecisa e de baixa qualidade. “Um grande desafio para o futuro é mudar a narrativa em torno das construções em madeira: que pode ser uma matéria-prima de alta qualidade, que pode atender a uma série de parâmetros de desempenho”, afirma Smith, sócio fundador da Mod X, uma empresa de consultoria de projeto e construção modular.

De acordo com Smith, as construções em madeira fazem parte do DNA da indústria de projetos da América do Norte, o que as tornam excepcionais. Nos Estados Unidos e Canadá, “90% do nosso ambiente construído é de madeira”, afirma. “Isso não acontece no mundo todo. A madeira deve representar 10% do mercado na América do Sul e na Ásia.”

Mas na América do Norte, a madeira está intrinsecamente associada ao nosso senso de lugar e identidade. “O seu cheiro, o som, o toque, é biofílico”, continua Smith. “Na América do Norte, temos esse histórico e uma cadeia logística especializada nessa matéria-prima. Ir desde a MLC  até produtos de valor agregado e derivados de madeira, isso é uma vantagem. Na verdade, entendemos essa matéria-prima de uma forma que diversos outros países não entendem.”

Este artigo foi retirado do painel “Outsights: Design & Construction for Mass Timber”, dos Centros de Tecnologia da Autodesk, apresentado por Sophia Zelov, gerente de relações da indústria de AEC dos Centros de Tecnologia da Autodesk, e moderado por Amy Marks, chefe de estratégia e comunicação de construção industrializada da Autodesk.