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Como e por que a convergência de setores está fortalecendo a inovação

industry convergence

O que significa convergência de setores?

A convergência de setores significa o surgimento de novas conexões entre áreas de tecnologia, processos de trabalho, negócios, cadeias de suprimentos e até mesmo setores inteiros anteriormente não relacionados. Cada nova conexão leva a inovações e pode resultar em uma disrupção considerável.

No Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, algumas das definições de convergência são:

  • Ato ou efeito de convergir.
  • Estado ou propriedade de convergente.
  • Direção comum para o mesmo ponto.

Essa direção comum para o mesmo ponto pode ser observada cada vez mais nas empresas. A convergência de setores ocorre à medida que tecnologias, processos, negócios e setores se misturam, até o ponto em que se tornam o mesmo. Não se trata de um fenômeno novo de forma alguma, mas a convergência é consideravelmente afetada e acelerada pela digitalização.

O smartphone é um poderoso exemplo da convergência de setores digitais, e a aceleração da digitalização está causando mudanças semelhantes em setores de todos os tipos. As implicações são profundas – os limites dos setores deixam de ser relevantes, e a concorrência pode surgir de qualquer lugar. Por exemplo: no caso do smartphone, a Nokia se deparou com um novo concorrente de um setor diferente – hardware de computador – e o potencial extremamente subestimado da Apple de tirar a Nokia da liderança do mercado.

Desenvolvimentos semelhantes ao do setor de telefonia móvel na década de 2000 agora estão acontecendo em toda parte. Hoje os carros são considerados smartphones sobre rodas, e os fabricantes tradicionais precisam competir com empresas de tecnologia que estão invadindo seu território. Para acompanhar a convergência e a aceleração da inovação e das disrupções tecnológicas, as empresas precisam adaptar suas formas de trabalho. Na era da convergência de setores digitais, ficar parado não é mais uma opção. Agilidade, flexibilidade e inovação precisam se tornar mais do que apenas frases vazias, pois novos concorrentes competem exatamente com base nessas capacidades.

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Os setores automobilístico e de tecnologia convergiram: os carros de hoje vêm repletos de tecnologias integradas – são basicamente smartphones sobre rodas.

Para garantir maiores níveis de agilidade, flexibilidade e inovação, as formas de trabalho também precisam convergir: os silos entre setores, áreas e negócios precisam desaparecer. No caso da construção, por exemplo, as novas maneiras de construir precisam reunir arquitetos, engenheiros, fabricantes, subempreiteiros, empreiteiros e proprietários para trabalhar juntos de uma maneira mais integrada por meio de processos e tecnologias.

As empresas podem usar a convergência a seu favor aproveitando os dados, as descobertas que eles proporcionam e a automação para transformar a forma como as coisas são projetadas, feitas, adquiridas e operadas. Valendo-se das melhores práticas de setores convergentes e reunindo funções multidisciplinares, as empresas podem fazer o seguinte:

  • diferenciar produtos e serviços;
  • melhorar a experiência do cliente; e
  • promover mais do que nunca a eficiência, a sustentabilidade e o crescimento.

Histórico de setores convergentes

A criação de novas combinações unindo tecnologias, processos e modelos de negócios é a base da inovação, que ocorre desde os primórdios da humanidade. Entretanto, a transformação digital está se mostrando um potente combustível, alterando o ritmo da convergência de linear para exponencial. A combinação de elementos de diferentes setores se tornou rápida e fácil, e os ativos digitais não têm limite no que diz respeito a quantos elementos podem ser combinados.

Indústria automobilística

Novas combinações de tecnologias ou processos – ou apenas ideias – sempre estiveram no cerne da inovação e do progresso. Veja o caso do automóvel: é uma das grandes inovações do século XX e é um excelente exemplo de convergência de setores. O primeiro automóvel foi uma convergência da carruagem e de um novo sistema de propulsão que se originou no setor ferroviário em seu início. Desde então, os carros têm sido um ponto central de convergência. Grandes descobertas na metalurgia e na fabricação de borracha levaram a melhores materiais para carrocerias e pneus. Por fim, os setores de eletroeletrônicos e telecomunicações convergiram com a indústria automobilística, produzindo aparelhos de som automotivos e telefones automotivos.

Hoje, no entanto, a convergência na indústria automobilística se tornou digital. As montadoras também precisam ser (ou formar grandes parcerias com) empresas de tecnologia, já que os automóveis se tornaram computadores atualizáveis em grande escala, além de veículos. Para manter a competitividade, elas têm que oferecer os recursos mais avançados de direção autônoma, bem como integração com aplicativos e tecnologias móveis. Como essa convergência entre a fabricação de automóveis e os setores de tecnologia é digital, não há restrições com relação a quantas conexões físicas podem ser feitas com o painel: agora é possível conectar infinitos aparelhos a um carro.

Telefones

O telefone talvez seja o melhor exemplo de convergência de setores. Antigamente, o telefone com fio só fazia ligações. Depois, convergiu com as tecnologias sem fio e digitais e se tornou um dispositivo móvel capaz de enviar SMS. Houve mudanças incríveis quando a capacidade de processamento e de largura de banda, a tecnologia de tela multitoque e a miniaturização das câmeras criaram uma supernova de convergência chamada smartphone.

Setor de mídia e entretenimento

Outro exemplo de convergência de setores é a indústria de efeitos visuais. Os avanços tecnológicos que começaram no início da década de 1990 aceleraram a convergência de equipes que antes ficavam separadas e trabalhavam em paralelo. Pense no filme O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, que contou com grandes inovações em imagens geradas por computador (CGI, Computer Generated Imagery). Quando foi lançado, em 1991, as filmagens ainda eram totalmente analógicas, e os fluxos de trabalho de produção de filmes eram bastante sequenciais, com períodos de espera inerentes para impressão, compartilhamento e revisão de filmes.

A digitalização da produção de filmes e efeitos visuais aumentou drasticamente a produtividade, eliminando tarefas que não agregam valor, como a distribuição e a digitalização de filmes físicos. Os fluxos de trabalho deixaram de ser sequenciais e se tornaram paralelos, pois várias equipes podiam trabalhar simultaneamente em diferentes aspectos do projeto. Esses fluxos de trabalho paralelos e o aumento da demanda de efeitos visuais chamativos levaram a ferramentas e competências mais especializadas, concentradas em oficinas de produção terceirizadas fora dos grandes estúdios. Devido à convergência, a indústria passou de um fluxo de trabalho interno de propriedade exclusiva, com tudo feito em um único estúdio, a um mercado criativo universal baseado na terceirização e na padronização de dados abertos.

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No setor de mídia e entretenimento, os fluxos de trabalho deixaram de ser sequenciais e se tornaram paralelos – vários artistas podem trabalhar em diferentes partes do mesmo projeto ao mesmo tempo, graças à convergência.

Como as empresas podem se adaptar para acompanhar os setores convergentes?

Uma alavanca essencial para que as empresas acompanhem a convergência é a adaptação das suas formas de trabalho. As empresas precisam deixar de lado os processos lineares e as práticas empresariais isoladas, que muitas vezes resultam em uma falta de colaboração e responsabilização generalizadas.

Uma forma de trabalho melhor é digital, automatizada, ágil e integrada, baseada em um modelo de informação coerente e dedicada a aproveitar as melhores práticas dos setores. Há quatro aspectos principais dessas novas formas de trabalho que podem ajudar as empresas a se tornarem mais ágeis, flexíveis e inovadoras: coordenação dos fluxos de trabalho, customização sob demanda, criação virtual e reformulação contínua.

Novas formas de trabalho: os quatro pontos da convergência de setores

1. Coordenação dos fluxos de trabalho

Os setores de arquitetura, engenharia e construção (AEC), projeto e fabricação de produtos, e mídia e entretenimento fazem uso cada vez maior de ferramentas digitais, como o Autodesk BIM 360 ou outros aplicativos de BIM, para coordenar e monitorar fluxos de trabalho. Com ferramentas digitais, as equipes conseguem coordenar processos com outras equipes, ecossistemas e cadeias de suprimentos a fim de automatizar tarefas e usar os dados para fazer descobertas, alcançando resultados nunca imaginados.

Uma ferramenta digital poderosa é o gêmeo digital de um produto ou construção. Um gêmeo digital é um modelo de dados integrado e atualizado de maneira constante, com tecnologia de IA e aprendizado de máquina, capaz de monitorar, manter e otimizar o desempenho de sua contraparte física. Um gêmeo digital permite que todos tenham acesso aos mesmos dados para que possam se coordenar e colaborar com mais eficiência.

O Autodesk Shotgun, aplicativo de gerenciamento de projetos para estúdios de criação, é um exemplo de ferramenta digital que possibilita a convergência. A plataforma reúne todas as informações de diferentes partes da produção visual em um único lugar, para que os estúdios possam coordenar fluxos de trabalho entre pessoas de diversas empresas e em diferentes fusos horários. Isso ajuda as equipes a finalizar o trabalho com mais rapidez e gerar economia para todos.

A coordenação dos fluxos de trabalho permite que as empresas registrem processos de trabalho anteriores, analisem sua relação com os resultados e usem as descobertas para implementar melhores abordagens. A coordenação dos fluxos de trabalho também permite que equipes de todos os setores façam melhorias, seja quando seis estúdios de efeitos visuais usam o Shotgun para trabalhar no mesmo episódio de Game of Thrones, ao coordenar um conjunto de fabricação complexa ou ao combinar a lógica da construção com o projeto de um edifício.

2. Customização sob demanda

Hoje, clientes de todos os tipos esperam mais escolhas e opções de customização. Oferecer essas opções, no entanto, geralmente custa caro porque as empresas precisam fazer essas customizações em escala. Mas, com a inteligência artificial (IA) convergindo para mais setores, os processos podem se tornar mais flexíveis e adaptáveis. Os fabricantes estão executando a montagem em massa de produtos mais personalizados e componentes exclusivos feitos com precisão em máquinas CNC.

O projeto generativo ajuda fabricantes e projetistas a encontrarem soluções que atendam a critérios de projeto exclusivos, podendo ainda ser um aliado na customização. Os gêmeos digitais também são fundamentais. Por exemplo: um projeto de construção usa um fornecedor de DFM (Design for Manufacturing, projeto para fabricação) que faz componentes, como banheiros modulares, fora do local. Se houver uma mudança súbita nas dimensões dos módulos, o fabricante fora do local será notificado imediatamente por meio do gêmeo digital, para que não sejam fabricados módulos incorretos.

No mundo analógico, preparava-se um projeto de construção com todos os detalhes definidos, e era muito difícil mudar. Agora, um gêmeo digital é como algo vivo que evolui o tempo todo. É ágil e iterativo, por isso não há problema em customizar o projeto. Se, no último minuto, o cliente optar por uma fachada diferente no edifício, podemos adaptar rapidamente o gêmeo digital, que repassa as novas informações para nossa configuração flexível de produção de pré-fabricados.

O futuro será customizado – seja um estúdio de pós-produção que edita diferentes cortes de vídeos para agradar a diversas regiões geográficas, uma empresa que pode fazer a substituição just-in-time de peças de máquinas usando a fabricação aditiva ou uma empreiteira que oferece variados componentes para construção modular fabricados fora do local.

3. Criação virtual

Os gêmeos digitais e os ambientes virtuais possibilitados por meio da realidade estendida (XR) – termo combinado para designar a realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR) e realidade mista (MR) – permitem que agentes de inovação incorporem sua criatividade em experiências imersivas. A criação virtual interliga os mundos digital e físico de maneiras novas e benéficas. Os gêmeos digitais permitem a visualização em tempo real das operações em um edifício ou produto. Simulações do desempenho de um produto em ambientes variáveis mostram a viabilidade do produto. E mundos hiper-realistas na tela ou na XR encantam os usuários por meio de experiências visualmente deslumbrantes e multissensoriais. A criação virtual está causando uma transformação permanente nas experiências e expectativas.

Por exemplo: a VR multiusuário permite que grupos de pessoas “caminhem” por um edifício antes que seja construído ou analisem os estágios atuais e futuros de uma construção em andamento. Colaboradores de qualquer local podem compartilhar suas experiências com um edifício sem nunca terem colocado os pés nele. As simulações possibilitam testar rampas ou outros recursos e avaliar a segurança contra terremotos ou incêndios.

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A realidade virtual na construção permite que os usuários caminhem por um edifício sem nunca terem colocado os pés nele.

Ferramentas de criação virtual, como gêmeos digitais para fabricação e desenvolvimento de produtos, podem simular opções para examinar como seria o desempenho do produto no mundo real. Elas também podem mostrar quais aspectos do projeto poderiam minimizar a manutenção no mundo real ou criar o processo de fabricação mais eficiente. As indústrias automobilística e de aviação estão usando gêmeos digitais para estudar os veículos da próxima geração. No setor de energia, réplicas digitais com alto nível de detalhes de sistemas complexos, como plataformas de petróleo, permitem prever quais aspectos estão propensos a acidentes ou falhas.

4. Reformulação contínua

Proprietários e operadores podem modificar produtos e projetos já existentes além do canteiro de obras, fábrica ou estúdio de produção. Essas alterações podem ser baseadas no desempenho, na experiência do cliente ou nas necessidades de mudança.

Na AEC, um exemplo de reformulação contínua é a gestão do desempenho de edifícios: aprimorar e adaptar um edifício depois de concluído e em uso. O fluxo de dados de sensores até o gêmeo digital do edifício permite otimizar continuamente o desempenho – por exemplo, sugerindo alterações no sistema de climatização ou criando uma programação de horários para abertura e fechamento de janelas a fim de melhorar a eficiência energética. Também pode recomendar novos componentes construtivos ou atualizar softwares em todo o edifício.

Os veículos elétricos da Tesla mostram como softwares e o monitoramento de dados permitem reformular continuamente um produto fabricado. O sistema operacional dos veículos agrega novos recursos e melhorias ao longo do tempo; à medida que mais dados são coletados, funções como a capacidade de direção autônoma são atualizadas. Outros produtos famosos e copiados, como as bicicletas ergométricas Peloton, incluem novas experiências na tela conectada. A reformulação contínua de produtos já é uma necessidade competitiva em algumas áreas.

Vantagens de se adaptar a novas formas de trabalho

Como mostra o exemplo da indústria de efeitos visuais, a convergência afeta universalmente os processos, as fronteiras multidisciplinares e as tecnologias relevantes de um setor.

Processos mais eficientes

Uma das maiores vantagens é a eficiência gerada ao permitir que diferentes pessoas e equipes trabalhem em paralelo no mesmo projeto. Processos semelhantes de digitização e digitalização que mudaram a produção de filmes também transformaram a maneira como as pessoas fazem qualquer coisa.

Em um único projeto de construção, pode haver um arquiteto trabalhando em uma parte de um edifício, um engenheiro trabalhando em outra parte e um fabricante fora do local trabalhando em pré-fabricados na construção industrializada. Essa capacidade vem da convergência do que acontece no projeto, na construção e na operação do edifício, que permite que os proprietários coordenem o trabalho, customizem experiências e façam sua otimização e reformulação contínuas.

Os proprietários têm mais controle

Essa forma de trabalho ajuda os proprietários de edifícios a compreenderem todo o processo e, portanto, terem mais controle sobre ele. Eles também podem padronizar e modularizar tudo que está sendo feito. Como resultado, podem controlar melhor a experiência do usuário, a qualidade, os custos de operação, as despesas de capital, a sustentabilidade e a pegada de carbono.

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O projeto e a operação de uma cidade inteligente se baseiam em dados e serviços digitais.

A cidade inteligente: um exemplo de convergência de setores

O movimento emergente das “cidades inteligentes” é uma das maiores tendências na convergência de setores.

Há cinco princípios que marcam as cidades inteligentes:

  • transformação digital baseada na coleta de dados e análise de padrões;
  • um ambiente urbano;
  • mobilidade, incluindo redes inteligentes de transporte público, gestão automatizada de tráfego e ruas para pedestres ou ciclistas;
  • governança e finanças; e
  • inclusão (compartilhamento de recursos e espaços públicos).

Ao contrário das cidades tradicionais, o projeto e a operação de uma cidade inteligente se baseiam muito mais em dados e serviços digitais. Isso cria uma experiência melhor para os cidadãos – e para os municípios, prestadores de serviços de infraestrutura e transporte, e outros.

Muitos dos princípios das cidades inteligentes em potencial ainda estão a anos de serem implementados: redes elétricas e de água inteligentes, carregamento sem fio para veículos elétricos integrado nas ruas e automação de sistemas urbanos com apoio da IA, inclusive iluminação e tráfego. Mas o movimento está ganhando força e requer uma forma diferente – e aprimorada – de colaboração entre arquitetos, engenheiros civis, projetistas, fabricantes, empreiteiros, subempreiteiros e proprietários que inclui a convergência de dados e fluxos de trabalho.

Por exemplo: as empresas de mobilidade poderiam trabalhar com prestadores de serviços de infraestrutura ou municípios para projetar a melhor forma de integrar seus serviços à cidade inteligente. A startup Arrival, do Reino Unido, começou um processo nesse sentido, fabricando pequenos ônibus sob demanda que, futuramente, serão conduzidos de maneira autônoma. Portanto, as perguntas são: onde esses ônibus seriam usados da melhor forma? Onde são seguros? Onde e quando há os melhores padrões de tráfego para os ônibus? Eles substituiriam outras formas de transporte público?

A convergência cria mais “plataformas” – e modifica os próprios setores

A mobilidade nas cidades inteligentes está escrevendo mais um capítulo na longa saga da convergência na indústria automobilística, mas não é o último. Muitas empresas – inclusive automotivas, eletrônicas e até de construção – estão criando “experiências” multifacetadas que podem incluir complementos, possibilidade de customização, assinaturas contínuas e muito mais. Essas experiências criadas não são produtos individuais, mas sim plataformas.

Quando se trata de convergência contínua nas empresas automobilísticas, as grandes montadoras estão se posicionando como empresas de mobilidade digital ou experiência digital – o que significa que precisam investir em engenharia de software e criar um ecossistema de serviços. Entre os novos atrativos estão telas aprimoradas por AR que monitoram as proximidades de maneira omnidirecional e apresentam detalhes sobre a área imediata e o sistema de entretenimento. Esses fabricantes se parecem cada vez menos com empresas automobilísticas e cada vez mais com empresas de tecnologia.

Todo esse investimento representa uma despesa enorme para uma empresa já existente que ainda tem um negócio legado para administrar. Embora essas mudanças possam ser consideradas necessárias, também expõem as empresas a um aumento da concorrência. As grandes empresas automobilísticas com plataformas de mobilidade têm seus antigos concorrentes, mas também competem com empresas mais novas que só prestam serviços de mobilidade, como o Uber. Naturalmente, o Uber só se tornou possível por causa da convergência entre mobilidade e smartphones.

A Tesla, que sempre se considerou uma empresa de tecnologia, tem um plano principal no qual os proprietários de automóveis Tesla podem alugar seus carros para pessoas usando chaves digitais temporárias. Um dia, talvez o Tesla seja totalmente autônomo, então o locatário poderia solicitar um serviço de transporte semelhante ao Uber em um Tesla autônomo de propriedade de uma única pessoa, que basicamente se tornaria um microsserviço de transporte compartilhado.

À medida que as possibilidades de convergência se multiplicam, aumentam também as possibilidades de disrupção tecnológica nos setores.

A evolução da venda de produtos à venda de plataformas está acontecendo até no espaço da AEC. Uma grande empresa de tecnologias de construção está no processo de criação de uma experiência construção-desempenho-gestão inteiramente baseada em dados. Esses sistemas fazem parte da convergência necessária para lidar com as necessidades de construção do século XXI. No entanto, o fato de essa empresa em particular estar se transformando em uma empresa de dados, além de uma construtora, pode significar concorrência com uma empresa que trabalha com dados e análises ainda melhor, como o Google.

Qual é o futuro da convergência?

É certo que a convergência de setores e de pessoas de várias áreas trabalhando simultaneamente nos mesmos projetos vai continuar. As perguntas, no entanto, são com que velocidade e quais os efeitos disso.

No livro O futuro é mais rápido do que você pensa, lançado em 2020, o fundador e empresário da XPRIZE, Peter Diamandis, argumenta que ondas de tecnologias avançadas – IA, robótica, impressão 3D, internet das coisas (IoT), biologia digital, XR, blockchain, conectividade gigabit global e assim por diante – estão convergindo em um ritmo que vem se acelerando exponencialmente e afetarão todos os aspectos da vida pessoal e social ainda antes do que muitos imaginam.

À medida que as possibilidades de convergência se multiplicam, aumentam também as possibilidades de disrupção tecnológica nos setores. Pense em como o smartphone causou uma grande disrupção quando se trata de câmeras, computadores, softwares, jogos, publicações e outros negócios ao mesmo tempo que transformou a vida das pessoas. Com a convergência afetando mais setores, as disrupções tecnológicas do nível da que ocorreu com os smartphones continuarão, podendo acontecer em qualquer lugar. É muito difícil prever a natureza exata das disrupções tecnológicas.

Contudo, uma área como a de transportes sofrerá disrupções sob várias perspectivas. O transporte pelo sistema Hyperloop a quase 1.100 km/h pode abalar as viagens de avião, automóvel e todas as outras formas de transporte público. E o velho sonho dos carros voadores poderia se manifestar na forma de drones autônomos de passageiros, afetando outros meios de locomoção e serviços de transporte compartilhado. Mas e se o avanço simultâneo da VR se tornar tão realista e satisfatório que menos pessoas precisem ou queiram se deslocar até o trabalho, visitar amigos pessoalmente ou sair de férias? Isso, por sua vez, tornaria o Hyperloop e os drones de passageiros menos viáveis do ponto de vista comercial.

É impossível saber se uma solução melhor para algo será substituída por outra solução revolucionária que acabe com o desejo de fazer a primeira. Com a convergência, há mundos conflitantes se reunindo e diferentes abordagens para problemas semelhantes. As disrupções tecnológicas podem prejudicar alguns negócios e, por outro lado, representar um ganho líquido para o mundo. Há muitos problemas a serem resolvidos e, felizmente, muitos setores, tecnologias e profissões humanas estão convergindo para tentar solucioná-los.

Sobre o autor

Alex Stern é líder da estratégia de plataforma de fabricação da Autodesk e é sediado em Munique, na Alemanha. Anteriormente, trabalhou como consultor em gestão, orientando clientes nos setores automotivo e de fabricação em grandes projetos de transformação. Alex Stern iniciou sua carreira em gestão de tecnologia no BMW Group.

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