Mandatos BIM para 2021 chegam à América Latina: sua empresa está preparada?
À medida que as vantagens do BIM – quanto à economia de custos de um projeto e sua manutenção a longo prazo – se tornam cada vez mais visíveis, a maioria dos governos dos países da América Latina começa a exigir sua utilização nas obras públicas por meio de decretos, convênios ou mandatos. Isto representa um grande desafio para todos os participantes do setor de AEC, os quais precisam buscar capacitação e assessoramento para não ficarem relegados, por exemplo, nas licitações das grandes obras de infraestrutura.
Está claro que o BIM (Modelagem de Informações da Construção) é uma metodologia que permite gerar, armazenar e analisar as informações de um projeto durante toda sua vida útil, facilitando assim tomar melhores decisões; o que para os governos resulta em uma maior eficiência de orçamento, transparência e produtividade.
“BIM é um ramo novo do setor, que você deve ter na empresa. Assim como você tem especialistas em estruturas ou engenheiros, precisa ter peritos em BIM”, assegura Eddy Slim, pioneiro no uso dessa metodologia no México com sua empresa ConstruBIM, que opera desde 2006.
Slim afirma que o processo já é uma realidade no México e, em pouco tempo, será uma exigência em nível nacional. “Em dois ou três anos, sua penetração alcançará 80% do mercado”, prevê. “Um grande impulso a seu uso foi o projeto para o Novo Aeroporto Internacional da Cidade do México, onde havia um mandato para que as diversas disciplinas envolvidas no projeto estivessem conectadas através do BIM. As empresas tiveram que se atualizar para não ficarem de fora. E o mesmo vem acontecendo com outras grandes obras de infraestrutura pública”, informa.
O trabalho com os governos
Nos últimos dois anos, a implementação do BIM tem tido avanços significativos em toda a América Latina. Enquanto no Chile o Padrão Nacional BIM é obrigatório desde 2020, a Costa Rica conseguiu um convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para impulsionar a adoção do processo e no Peru foi promulgado em 2019 um decreto supremo para a incorporação progressiva do BIM nos investimentos públicos. Esses são apenas alguns exemplos mencionados por Ximena Rico, encarregado da América Latina no grupo Government Affairs da Autodesk.
Para Rico, agora é o momento de trabalhar em “como” se implementará o processo, articulando três participantes essenciais: governo, indústria e setor acadêmico. Um dos principais desafios é o alinhamento e o compromisso de todas as entidades responsáveis com a implementação da metodologia.
Relativamente à indústria, em todos os países há empresas muito experientes no uso da tecnologia. “Mas na América Latina, 95% das empresas que se dedicam à construção são pequenas e médias. Então, descreve Rico, quando uma grande empresa ganha uma licitação, para poder cumprir o contrato, precisa subcontratar um ecossistema de 200 ou 300 empresas que não têm BIM, o processo resultante não é um BIM puro e totalmente eficiente. Uma das iniciativas mais importantes é poder atualizar tecnicamente esses 95%.”
O principal aliado para conseguir isso são as câmaras da construção, através de webinars, capacitações gratuitas e difusão de casos de sucesso documentados em outros países. “A ISO já tem a norma 19650, que é internacional e focada no BIM. Então pode-se criar um anexo local no qual é mantida uma percentagem muito alta do que está definido e, assim, poupa-se grande parte do trabalho”, informa Rico.
No mesmo sentido, em 2020 foi criada a Rede BIM dos Governos Latino-Americanos – composta pela Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Peru e Uruguai – em busca do alinhamento regional de normas e processos, e o fomento da formação de capital humano. Além de se reunirem de dois em dois meses, em 17 de março participaram da primeira Cúpula Global do BIM, organizada pelo Reino Unido.
Não são só os governos que estão se organizando para compartilhar conhecimentos, a indústria privada também está fazendo o mesmo, através de grupos como BIM Task Group Mexico, BIM Forum Argentina e BIM Forum Colombia.
O desafio da capacitação
Segundo Slim, as grandes e médias empresas devem ter uma equipe e apoio externo para treinamento com a finalidade de ampliar seu alcance se forem executar projetos grandes. E, quando se sentirem à vontade, aí sim todos devem entrar no processo.
Ele propõe que a capacitação pode iniciar na empresa, começando por fazer uma inspeção interna (house check), preparar as pessoas e produzir um plano de trabalho, entrar como gestores de BIM se aparecer a necessidade específica ou funcionar como empresa de terceirização para os que não querem formar um departamento BIM.
Em relação ao ensino do BIM no setor acadêmico, Ximena Rico considera que a maior dificuldade é que, dado o tempo que levam as modificações curriculares, quando esse tipo de conteúdo é incorporado, já foi superado por outros processos. Por isso, ela acredita que é mais eficiente optar por modificações paracurriculares. “Desta forma pode-se incluir um conteúdo tecnológico, que hoje pode ser BIM, mas amanhã Gêmeos Digitais e talvez em seguida inteligência artificial ou qualquer outra tecnologia que surja”.
No México, o muito prestigiado Instituto Politécnico Nacional (uma instituição pública de educação superior) possui uma divisão que presta serviços tanto ao governo como às empresas privadas: assim retroalimentam suas estratégias, entre a prática e o pedagógico. Por outro lado, membros da ConstruBIM dão aulas na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), nos níveis básico, intermediário e avançado no que constitui um diploma profissional sobre o BIM. E exemplos semelhantes ocorrem em outras universidades da América Latina, como na de Lima.
Em 2020, a Escola de Gestão da Câmara Argentina da Construção implementou um bacharelado em BIM para chefes e coordenadores de obra e gerentes de projeto. Seu diretor, Sebastián Orrego, acrescenta que também iniciaram o programa BIMEA (BIM para escritórios de arquitetura) com o objetivo de alcançar os escritórios pequenos e médios. Por outro lado, Orrego assegura que o número de inscritos em palestras e cursos relacionados com o BIM aumentou 500% relativamente ao ano anterior: chegaram a um total de 39 mil participantes.
“Durante este ano, informa Orrego, queremos aprofundar o curso e melhorar os conteúdos dos dois programas. Em 2021, o BIM possui uma relevância importante, já que muitos governos estão promovendo os mandatos, porque cada vez estão mais conscientes das economias reais que seu uso implica, não só em custos, mas também no retorno do investimento.”
Os números no nível regional
Orrego também coordena, desde 2018, o Bim Forum Latam da Federação Interamericana da Indústria da Construção (FIIC), composto por 19 câmaras de 18 países. A partir desse órgão, geriram um convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para realizar uma pesquisa sobre a implementação regional do BIM em 747 casos, a cargo da firma Dodge Data & Analytics.
Do informe conclui-se que a maioria dos investimentos futuros estará vinculada ao desenvolvimento de normas e personalização de soluções e bibliotecas 3D. Outra das conclusões interessantes é que 96% dos entrevistados experimentou benefícios derivados da implementação do BIM, porém 60% acredita que ainda tem muito mais a ganhar. Talvez por isso, a maioria participou de maneira ativa em algum tipo de curso de capacitação, principalmente os oferecidos por câmaras e associações profissionais.
Com base nos números do informe do BID, pode-se deduzir que para 80% das empresas, está claro que, seja por meio de educação formal ou em programas dirigidos pela indústria, atualizar seus processos e equipes profissionais será a chave para garantir sua competitividade. Porém, além da rápida tecnificação das empresas, também é indispensável que os governos acelerem o processo de implementação da metodologia e as universidades revisem seus conteúdos curriculares. Esses são os três pilares necessários para garantir o sucesso dos projetos nesse novo paradigma imposto pelo BIM.