4 mulheres latino-americanas rompem barreiras de gênero na construção civil
Relatórios da ONG Corporate Women Directors International mostram que 7,3% dos altos cargos hierárquicos nas 100 mais importantes empresas da América Latina são ocupados por mulheres. No universo da construção civil, historicamente associado ao mundo masculino, as mulheres representam menos de 10% do pessoal.
Entretanto, a participação feminina nas diretorias executivas resulta em mais vendas e melhor retorno do capital investido. Nesse contexto, o testemunho de quatro mulheres que trabalham na construção civil em diferentes países mostra como a tecnologia pode ajudar a derrubar as barreiras e preconceitos, e alcançar a igualdade de gênero.
“Não posso deixar que uma mulher me diga o que fazer” ou “as mulheres não podem opinar nos negócios” foram frases que Angélica Ortiz, diretora de BIM do Consórcio IUYET, na Cidade do México, já escutou muitas vezes. Embora continue sendo um setor dominado por homens, pouco a pouco as coisas estão mudando: “De fato, enquanto a Câmara Mexicana da Indústria da Construção (CMIC) revelou que as mulheres na construção em 2019 constituíam pouco mais de 10% do pessoal, a participação na empresa em que trabalho é de aproximadamente 30%, incluindo cargos de direção.”
Para essa arquiteta é crucial chegar ao cumprimento do quinto objetivo da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU: alcançar a igualdade de gêneros e empoderar todas as mulheres e meninas.
“Esse objetivo pede o estabelecimento de quadros jurídicos sobre a igualdade das mulheres no local de trabalho. É necessário começar a reeducar as novas gerações”, afirma Ortiz, “para que as mulheres sejam vistas como algo mais do que o alicerce do lar”.
Entretanto, a implementação do BIM ajudou a dar visibilidade às profissionais da construção. “A preparação é um ponto chave. Na área do BIM, é importante conhecer os regulamentos e obter certificações como usuário do software. É preciso estar sempre atualizada, investigar e se manter na vanguarda para não ficar obsoleta.”
Embora tenha se formado como arquiteta somente há três anos, a nicaraguense Belcky Torres Calderón é uma autoridade com capacidade para descrever um panorama do que ocorre na América Central e no Caribe.
Ela é uma das fundadoras da BIM viste de Prada, uma ONG que apoia a inclusão e a diversidade no setor AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção). Para ressaltar a função da mulher no setor, elas possuem um segmento na Newsletter BIMNomad, onde entrevistam semanalmente uma figura feminina BIMer. E sua conta de Twitter funciona como foco de difusão, com uma comunidade de mais de 400 integrantes.
Belcky Torres Calderón, que trabalha como Coordenadora de edificações de BIM para a empresa DSC+Ingenieros na Nicarágua/Costa Rica, informa que no seu país, durante 2018-2019, somente três em cada dez mulheres que ingressavam em carreiras relacionadas com a construção eram mulheres. “É uma grande desvantagem, já que se pode contar com um menor capital humano feminino ativo.”
As mulheres não são mais “o sexo frágil”
Graças aos avanços tecnológicos do último século, a aplicação de novas metodologias de trabalho como BIM, VDC (Virtual Design and Construction) e Construção Enxuta transformaram a forma em que estávamos acostumados a trabalhar. “É gerado um novo paradigma, onde é vital a colaboração e a correlação das partes que integram o projeto. Os benefícios do mundo online são inigualáveis”, afirma Belcky Torres Calderón, “o que possibilita oportunidades abertas a qualquer gênero”.
As estatísticas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostram que a participação das mulheres no setor da construção está entre 1% e 6%. Os especialistas da entidade afirmam que os trabalhos tradicionalmente considerados como “femininos” não são tão bem pagos. Mas à medida que diminuem as tarefas que requerem maior capacidade física e aumenta a assistência tecnológica e robotizada, deixa de fazer sentido a frase que rotulava as mulheres como “o sexo frágil”.
Sandra Jiménez Restrepo, participante ativa do BIM Forum Colombia, considera que o maior desafio foi quebrar os paradigmas e mitos. Ela começou a trabalhar com 19 anos, quando seus pais não puderam continuar a pagar seus estudos por um problema econômico. “No princípio nos enxergam como uma menina, uma despreparada. Mas depois que conseguimos um cargo, ele nos abre as portas e o respeito de todos. Não há necessidade de demonstrar nada a ninguém, somente aproveitar nossa capacidade de adaptação e de reflexão para propor soluções. Muitas vezes o problema é a falta de comunicação”, considera Sandra Jiménez Restrepo, “por isso temos que valorizar as interações, mesmo que sejam tão pequenas como levar um café a um cliente. E não ter medo de falar com o nível hierárquico superior”.
Segundo Sandra Jiménez Restrepo, que atualmente trabalha como profissional de BIM na empresa Constructura Conconcreto, dois fatores impulsionaram as mulheres a ganhar mais espaço: a evolução do mercado e as tendências para a preferência das experiências dos usuários. “Isto exige empatia e uma grande dose de sensibilidade, o que sem dúvida alguma faz parte da nossa essência. A sensibilidade nos permite criar estratégias para melhorar a experiência dos nossos clientes, aumentando a rentabilidade. Dado que a implementação do BIM é um trabalho de equipe, nossas habilidades ganharam força.”
No Brasil, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem mais de 200 mil mulheres trabalhando no setor da construção civil. E um dado importante é que essa participação cresceu 120% entre 2007 e 2018. No Brasil existem programas que fomentam a capacitação de mulheres para o setor da construção civil em estados como o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Caroline Machado de Abreu lidera a área de inovação na Camargo Corrêa Infra, uma das mais importantes construtoras do Brasil. “O mercado da construção civil sempre foi predominantemente masculino”, enfatiza Caroline, “mas cada vez mais vemos que as mulheres são promovidas a posições estratégicas e de gestão. No entanto, temos um grande desafio pela frente. Aqui na nossa empresa não há diferença entre homens e mulheres, todos somos tratados como profissionais”.
Para esta engenheira civil, o avanço do BIM ocorre num momento em que as mulheres ganham cada vez mais espaço no mercado de trabalho latino-americano: “É natural que nós mulheres aproveitemos as oportunidades que nos são oferecidas e subamos nas hierarquias.”
Relatórios da Organização Internacional do Trabalho concordam com Caroline Machado de Abreu ao afirmar que “com mulheres profissionais cada vez mais qualificadas, a América Latina e o Caribe se converteram em líder mundial em diversidade de gênero na gestão de negócios”.