Construção civil: 5 dicas para reabertura com mais segurança
Os canteiros de obras estão entre os sinais mais evidentes da força comercial de um país. Os capacetes, as gruas e o ruído da maquinaria pesada são indicadores bem mais expressivos do crescimento econômico e empresarial do que os gráficos de barras.
Esse é um dos principais motivos pelos quais, em muitos países, a construção civil é um setor prioritário na saída da quarentena da COVID-19. Um amplo ecossistema de investidores, empreiteiras, fornecedores e trabalhadores tem interesse na arrancada de projetos multimilionários. Mas, em tempos de incerteza, o barulho estridente das furadeiras e o redemoinho de poeira de uma nova construção também podem ser símbolos marcantes de renovação.
Governos do mundo todo estão autorizando a reabertura dos projetos de construção civil. Muitos operários estão voltando aos milhares de canteiros de obras que estavam inativos. Outros estão ampliando equipes que foram consideradas essenciais e permaneceram abertas com contingente mínimo.
Em meio ao entusiasmo, também existe a preocupação com a reabertura segura dos canteiros de obras. No Reino Unido, o governo publicou orientações oficiais para solucionar as preocupações de segurança em todo o setor de construção civil do país. Além disso, o CLC (Construction Leadership Council – Conselho de Lideranças da Construção Civil) está elaborando, em parceria com o governo britânico, um plano trifásico para reiniciar (Restart), redefinir (Reset) e reinventar (Reinvent) as atividades do setor.
Do outro lado do Atlântico, um estudo recente encomendado pelo prefeito de Austin, no Texas (EUA), prevê que as hospitalizações locais relacionadas ao coronavírus deverão triplicar se a cidade começar a reabrir os canteiros de obras sem medidas adicionais de segurança.
Com o término da quarentena, uma coisa é certa: em um período intenso de alto risco, não é possível manter as atividades da forma tradicional. Para ajudar as empresas a redefinir suas estratégias de segurança no canteiro de obras, os especialistas do setor dão cinco dicas importantes para que as empresas de construção civil possam começar seus projetos de um jeito novo.
1. Intensifique a comunicação e a supervisão
No caos de um dia movimentado, pode ser difícil manter o cumprimento das medidas de saúde e segurança da construção civil – antigas e novas. É por isso que muitos canteiros de obras reabertos estão usando as habituais “reuniões de segurança pré-trabalho” para enfatizar os novos riscos e realidades da operação sob a ameaça da COVID-19.
Segundo Duncan Yarroll, diretor da divisão de BIM e engenharia digital da empresa de consultoria e construção civil Mace, com sede no Reino Unido, cada dia de trabalho começa com um lembrete às equipes sobre as medidas de segurança. “Nosso objetivo é iniciar o dia com segurança”, explica. “Os supervisores de projeto presidem uma reunião na prefeitura, onde explicam a todos quais são as atividades planejadas para aquele dia. Também verificam se as equipes têm as ferramentas adequadas e se receberam o treinamento correto. Agora inserimos uma lista de conferência da COVID-19 na pauta da reunião para reforçar as novas medidas de segurança necessárias.”
As empresas também estão aumentando a sinalização no canteiro de obras, assim como os recursos de saúde e segurança, para garantir que os funcionários cumpram as normas durante todo o turno.
2. Crie novos esquemas de turnos
“As equipes de construção civil estão agora trabalhando em um novo ambiente”, comenta Mike Pettinella, diretor da EMEA Autodesk Construction Solutions. “Nas áreas em que os canteiros de obras foram reabertos, as empresas estão implementando novas rotinas para garantir a segurança dos funcionários, como alternar os horários de trabalho e as chegadas e saídas, mantendo, porém, a produtividade e os mesmos padrões elevados de qualidade.”
Em vez de turnos de 8 a 10 horas, talvez as empresas também precisem considerar a possibilidade de adotar turnos de 12 horas, em que um profissional possa iniciar e concluir o maior número possível de tarefas em uma única visita ao local. Naturalmente, qualquer mudança desse tipo poderia infringir os regulamentos locais. As empresas vão precisar trabalhar em conjunto com as autoridades locais para modificar as restrições atuais quanto aos limites de ruído e horários adequados de operação.
Felizmente, as autoridades estão colaborando: o governo do Reino Unido, por exemplo, publicou uma nota garantindo a ampliação do horário de funcionamento dos canteiros de obras do país. Isso implica adotar horários de início e de término variados e até mesmo dar prioridade a pedidos de autorização para trabalho de 24 horas e, em seguida, submetê-los às autoridades locais para aprovação sempre que possível.
3. Considere a possibilidade de incorporar tecnologias vestíveis
É necessário proteger os engenheiros e outros profissionais que supervisionam as inspeções em vários projetos, e muitos demonstraram preocupação em voltar aos canteiros de obras antes do fim da pandemia.
Duncan Yarroll afirma que a tecnologia pode ajudar a resolver essas preocupações por meio da automatização de processos. “Uma combinação de vídeo e tecnologia vestível, além de alguns aplicativos de software muito inteligentes, capazes de reconhecer determinadas atividades, permite executar tarefas de inspeção remotamente”, explica. “Com registros em vídeo, podemos analisar áreas específicas das obras em andamento, percorrer listas de conferência e transmitir informações por meio eletrônico. Assim, não precisamos enviar mais pessoas ao canteiro, colocando-as em risco.”
4. Otimize os layouts dos canteiros de obras
Algumas medidas, como a revisão dos controles de acesso e saída, a alteração das vias de circulação e a redução do número de locais de encontro, podem ajudar a manter o distanciamento social na reabertura dos canteiros de obras.
Amit Puri, especialista em soluções de construção civil da Autodesk, comenta que muitas empresas estão implementando sistemas de mão única e contratando encarregados de portaria para registrar a entrada e saída dos trabalhadores – evitando, assim, a formação de filas e agilizando a passagem pelas catracas.
“Também é importante diminuir o número de locais de encontro em cada canteiro de obras”, recomenda. “É natural pensar que seriam necessárias mais estações com água e sanitizante para as mãos. No entanto, na maioria dos casos, é melhor oferecer garrafas de água e ajudar as pessoas a manter a distância apropriada.”
5. Maximize a colaboração fora do canteiro de obras
A reabertura dos canteiros de obras com uso intensificado de ferramentas de colaboração – para desenho, documentação, modelagem e compartilhamento de dados – pode ajudar a manter o distanciamento social, uma vez que reduz a necessidade de reuniões presenciais e o número de pessoas na obra.
O mesmo vale para os relatórios de saúde e segurança. A substituição do uso da prancheta pelo registro eletrônico de incidentes melhora a qualidade dos dados. Além disso, há uma grande redução nos processos manuais e na necessidade de compartilhar documentos em papel no canteiro de obras.
Segundo Bernard Sala, vice-diretor executivo de inovação, pesquisa e desenvolvimento do grupo francês de infraestrutura Colas, a tendência à colaboração virtual só tende a aumentar. Na verdade, poderia até ser um catalisador para o lançamento de projetos já em meio digital.
“Talvez este seja o momento de se preparar para o futuro com mais ponderação”, recomenda. “Com o uso crescente da tecnologia na reabertura dos canteiros de obras, muito se aprenderá sobre construção à distância. A digitalização desse processo vai possibilitar a resolução de um número maior de problemas desde os estágios iniciais. E a implementação nos canteiros de obras vai proporcionar mais eficiência. Isso também terá um impacto bastante positivo sobre os aspectos ambientais e financeiros do trabalho futuro. Um projeto BIM deve custar menos que um projeto convencional, isso é certo.”
Bernard Sala comenta que a proteção contra futuros desafios relacionados a viagens representa outro benefício: “na impossibilidade de fazer viagens aéreas a Mumbai ou Madagascar para um encontro com colegas de trabalho, a tecnologia pode ajudar a manter as equipes unidas. É possível continuar a desenvolver bons relacionamentos remotamente”.
Reabrir os canteiros de obras com segurança após uma pandemia global é um desafio incomparável. Mesmo assim, talvez seja o catalisador de outro tipo de renovação que, segundo alguns, já deveria ter ocorrido no setor de construção civil.
“Existe uma lacuna entre as gerações. Os jovens não querem trabalhar na construção civil porque consideram o ambiente de trabalho perigoso e pouco avançado do ponto de vista técnico”, explica Duncan Yarroll. “A adoção de tecnologias que permitam, por exemplo, simular o processo de construção com realidade virtual antes de iniciar a obra pode ajudar a atrair novos talentos. Esse recurso também otimizaria o número de pessoas necessárias em um canteiro de obras, facilitando o distanciamento social. Por mais preocupante que seja o momento atual, talvez algum dia a COVID-19 seja considerada o elemento mobilizador de que o setor precisava para reformular os processos e métodos adotados.”
Bernard Sala acredita que o setor de construção civil possa sair dessa crise melhor e mais forte. “Além da crise sanitária, também está ocorrendo uma mobilização em tempo real nos métodos de operação”, comenta. “Tentar sair dessa situação pelos métodos tradicionais seria um erro. Existem hoje novas dimensões, como a sustentabilidade e a digitalização, que precisam fazer parte da solução.”